A idéia para este texto já me acompanha há muitos anos, praticamente desde que eu conheci o movimento punk enquanto expressão política e artistica de ideias e sentimentos. Sempre questionei a atuação de certos grupos que utilizam da violência indiscriminada e da arruaça e deste modo se assimilam mais no modelo fascistóide que pretensamente criticam do que qualquer outra coisa acreditando fielmente que esta atitude destrutiva é ”punk”. Para começar, a palavra punk não é apenas um substântivo da lingua inglesa que denominado como um vagabundo, sujeito tosco, e por ai vai, pois a palavra “punk” também nomeia uma maneira de pensar e de agir diante uma sociedade.
Meu objetivo principal é um questionamento ético: Punk é um fator ou é uma facção ? Quais as delimitações e as críticas e auto-críticas que podem ser pensadas e realizadas dentro do movimento ? E mais importante... isso é possivel ?
Se pensarmos do modo pessoal, creio que sim. Se pensarmos ainda que o punk é uma posicionamento do indivíduo, mais ainda, pois cabe ao sujeito ser responsável por sua própria realidade. Ou seja, o lema está mais para “Há futuro: Em nossas mãos está nosso destino” da extinta banda anarco-punk Execradores do que o “Não há futuro”, lema dos ingleses dos Sex Pistols. Duas maneiras de ver e conceber as realidades humanas. Cada qual com seu percalço histórico. Não estamos perdidos no supermercado tal qual como Mick Jones canta na música do The Clash que
“Eu estou perdido no supermercado,
Vim aqui pela oferta principal
Personalidade garantida”
Mas tem hora que tem que se escolher. Esteja na prateleira ou não.
Daí que começa essa indagação filosófica de como pensar o movimento punk dentro deste contexto de mão dupla, por onde perpassa uma visão negativa e uma visão positiva deste segmento cultural e musical. E o movimento é muito visado por seu lado negativista.
No que tange a grande mídia, o punk sempre estará no noticiário policial cometendo algum crime ou baderna, a não ser que uma das bandas apadrinhadas por grandes gravadoras lance um disco ou coletânea. Por ser um movimento muito crítico e contrário a sociedade capitalista de consumo, logicamente que os meios de comunicação do sistema não vão falar bem deste ideal de vida. Mas, e quem se importa ? Se os velhos anarquistas do século XIX se preocupassem com o que diziam deles não teriam herdado a terra, de modo bem tímido, se posso dizer assim. Mas isso não quer dizer que deve-se dar munição ao sistema para ser criticado, não é ?
Por um lado, o movimento punk pode ser pensado como um bando de doidos que levam na cabeça o lema radical do “procure e destrua” e sair as ruas querendo destruir tudo à sua frente, sem contar no fator ganguista que acometeu por bom tempo o movimento, sendo apenas uma facção contrária à tudo o que veio do passado recente da cultura moderna ocidental, sejam hippies e rockers mais velhos, além da desesperança que estava atrelada à este raciocínio brigão.
Por outro lado, o punk pode ser um elemento transformador de consciências e atitudes, catalizador de uma energia básica e revolucionária por um desejo de mudança da ordem social estabelecida, um fator de esperança e de realização de algo extraordinário...
Talvez o que dê significação à estas questões seja a escolha, baseada na procura existencial de cada pessoa envolvida com este movimento. O que pode ser um desejo mortífero pode dar lugar à um desejo vital de mudança. Nas palavras de Marky Perry, editor do primeiro fanzine punk inglês chamado Snnifing Glue: (...)É verdade que o punk destruirá, mas não de modo irracional. O que o punk destruir será reconstruido com honestidade.”
Esta destruição não necessita ser física. E eu fico com esta opção...
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