segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

PÃO COM DUREX - PUNK ROCK





A banda toca um Punk rock simples, direto, com letras retratando o cotidiano brasileiro”... Quantas vezes não lemos em resenhas de cd´s este tipo de comentário ?? inúmeras vezes. Mas no caso do PÃO COM DUREX, a máxima pode ser levada à sério!!!! Punk rock é um som simples, direto, rápido e certeiro!!!! E estes rapazes de boa esperança sabem dar conta do recado!!!
Mas antes de dissertar sobre o cd demo dos punk rockers de boa esperança, vamos à uma pequena estória... Estava eu terminando minha aula de cidadania e ética no Propac I quando um aluno, de camiseta do Ramones(e era do filme “Rock and Roll High School, portanto não é qualquer camiseta do Ramones!!), me perguntou se eu não falaria sobre a ética dos movimentos urbanos juvenis... achei interessante a proposta. Começamos a falar sobre punk rock, hardcore, e ele me disse que tinha uma banda, de nome curioso: PÃO COM DUREX ! Qual não foi minha surpresa ao baixar na net o som dos malucos de boa esperança e me deparar com um deja vu(aquela sensação de já ter visto algo antes, que a gente tem de vez em quando) e me senti transportado para as garagens minúsculas onde meus amigos tocavam nos anos 90(e eu também!!!) além da lembrança do som da época... quase não acreditei!! Fiquei pensando como é que uns caras que nem tinham nascido naquela época podiam fazer um som tão semelhante ?? bom, aí esta o mistério da musica!!!
Os ecos musicais do PÃO COM DUREX estão atrelados ao hardcore dos anos 80, aquele praticado por bandas como RATOS DE PORÃO, CÓLERA, LOBOTOMIA, GRINDERS, e por muitos outros mais!!! A devoção da banda pelos brasilienses do D.F.C. pode ser notada no modo rasgado e “cortado” de Adrian dar seus berros no microfone, já na abertura da demo com a música “Depois do fim”. já a guitarra de Alexandro, que é a cara do D.H. Peligro dos Dead kennedys, tem um timbre bem parecido com a de Johhny Ramone... e não podia ser diferente, veja o sabor ramônico de “falsos revolucionários”, estilo punk 77, música bem cadenciada e que lembra também os GAROTOS PODRES da época do LP “Pior Que Antes”. Mas ao se focar no hardcore mais “americanizado” (tipo Minor Threat), como nas musicas “Sua Hora”, “Merda de Vida” e “Desigualdade”, Alexandro se torna um torturador de professores de música ao depredar as notas musicais em velocidade máxima. O contrabaixo que esta á cargo de meu ex-aluno Rafael Ramone, ou como o chamavam na sala, Pão, martela ouvidos mais desavisados... Isso não quer dizer que Rafael não domine o instrumento, muito pelo contrário!!! Pela velocidade absurda de “desigualdade”, em seus mínimos 25 segundos, da pra notar o contrabaixo “sangrando” seus graves. E como o coração de uma banda é a bateria, não poderia deixar de falar de Josias que sacrifica sua bateria como se fosse um homem de cro-magnon (e isso não é insulto!!!), como pode-se notar em “sou eleito”, uma singela homenagem á um tipo de profissonal brasileiro, e na já comentada “desigualdade”.
As letras do P.C.D. são um caso á parte... misturando uma boa parte de protesto social, certa ironia e até sarcasmo(no bom sentido, é claro), os garotos de boa esperança mandam seu recado sem meias-verdades. È o que se faz de mais tradicional, e por que não, revolucionário, dentro do punk rock. Musica de três acordes que serve para acordar um povo e uma nação, com a sonoridade bravia e poesia primal. E, sinceramente, o Pão Com Durex esta fazendo bem o seu trabalho de “acordar” esta nação... duvida? Termino esta resenha com uma letra da banda:

Será que vai ser sempre assim?

Não acredito no que estou vendo
Tanta violencia acabando com o mundo
Vejo pessoas sem ter o que fazer
Vejo pessoas querendo morrer

Cada vez mais a ignorancia aumentando
Cada vez mais a miséria crescendo
Pessoas não tem onde morar
Pessoas não tem o que comer

Será que vai ser sempre assim? x4

Revolta!

Arte Alternativa - NIRVANA



Desenho digital elaborado pelo meu grande amigo Rodrigo Ramos. Além de criar imagens desse tipo, Rodrigo é editor do blog PORTAL PINK FLOYD. Não deixe de visitar em http://portalpinkfloyd.blogspot.com/


P.S. Clique na imagem para amplia-la.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

SHELTER – O Hardcore Em Nome De Krishna




Formada no inicio dos anos 90 na cidade de Nova York por Ray Cappo e John Porcell, a banda SHELTER foi responsável pelo surgimento do Krishna-Core, o hardcore com influências orientais relacionadas ao hinduísmo, principalmente no que se refere às letras das músicas. Ray e Porcell eram oriundos da seminal YOUTH OF TODAY, banda que se tornou um dos ícones do movimento straight edge e do hardcore nova-iorquino, escrevendo uma história à parte dentro do punk norte-americano: a busca por uma vida saudável e positiva, longe das drogas e da postura “procure e destrua” que nutria as gangues da época.
O SHELTER surgiu um tempo após o fim da YOUTH OF TODAY, e ao que parece, foi uma resposta ás perguntas existenciais que nortearam Ray Cappo neste momento. Ele fez uma viajem á Índia, e ao se deparar com a cultura hindu e todo seu misticismo, encontrou certo conforto espiritual nesta religião, ao qual se converteu e desde 1988 faz parte do movimento Consciência de Krishna. Paralelamente, Porcell sentia-se como um peixe fora d água, e em inúmeras entrevistas o guitarrista menciona este sentimento como um propulsor para sua conversão ao hinduísmo. Mesmo Porcell participando ativamente do Shelter como guitarrista, a banda sempre foi um projeto pessoal de Ray Cappo, que conseguiu traduzir de modo mais abrangente todo seu sentimento em relação ao mundo em que vive através das letras espiritualizadas e críticas.
Lançando seu primeiro álbum em 1990, denominado “Perfection Of Desire, ou em tradução livre, “Perfeição do Desejo”, o SHELTER iniciava seu percurso musical baseado na filosofia hindu dentro do hardcore. Algo realmente surpreendente, ao passo que as bandas não se preocupavam em analisar filosoficamente as questões existenciais humanas nesta época, e onde o grupo de Ray Cappo foi precursor. Musicas como “Society Based On bodies”(“Sociedade baseada em Corpos”), que questionam o sexismo exarcebado da sociedade machista e patriarcal e o arrefecimento do corpo perante á alma, bem como a canção homônima “Shelter”, quase uma oração dentro de uma batida fortemente marcada pela bateria, já demarcavam qual era o lugar á ser ocupado por esta banda dentro do heterogêneo mundo do hardcore. Vale a pena registrar que Cappo (Vocal),Todd Knapp (guitarra), Tom Capone (guitarra) , Dave Ware (Contrabaixo) e Bill Knapp(bateria) eram todos monges nesta época, e viviam em Nova Yorque. Os discos seguintes, “Quest For Certanity”(“Busca Por Segurança”) e “Attaing The Supreme”(“Atingindo O Supremo”), ainda é bem calcado na busca espiritual dos integrantes. È em “quest For Certanity” que John Porcell entra como membro efetivo da banda, sendo que também vivia como monge.
Era o inicio dos anos 90 e o SHELTER já consolidava seu nome dentro do movimento alternativo, fazendo turnês nos estados unidos dentro de um furgão velho. Realmente, quem já fez parte da cena hardcore sabe o que é viajar em condições não muito confortáveis, junto com um bando de garotos ávidos por tocar sua musica rápida e pesada pra um publico... hardcore! Com a gravação do quarto disco em 1995, denominado simplesmente de “Mantra”, o SHELTER torna-se mundialmente conhecido pela superexposição que o álbum obteve na mídia musical. Pessoalmente, considero “Mantra” um dos discos mais fabulosos gravados por uma banda de hardcore, pois uniu o som pesado com as questões individuais, existenciais e humanitárias que a banda já tratava em seus álbuns anteriores, mas conseguiu transcender em musicas como “Message of Bhagavat (“Mensagem do Bhagavat”) inspirado no milenar livro Bhagavat Gita , Here We Go” (“Aqui vamos Nós”) uma canção que tenta retratar o amor conjugal,“Empathy”(Empatia) que explana o conceito de empatia pelo outro e o confronto com o egoísmo humano; e a canção tema “Mantra”, esta mais melódica do álbum e evocando o mantra Hare Krishna. Essa “superexposição” ou “sucesso comercial” trouxe o SHELTER para tocar no Brasil em 1996 em São Paulo, Santos Recife, Curitiba entre outras; e em 1998 retorna em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Não é de se espantar que a banda, super-natureba, se esbaldou com as frutas e se declararam fãs de açaí!!!
A formação à partir de “Mantra” se estabiliza em Ray (vocal), Porcell (guitarra) , Adam Blake (Contrabaixo) e Dave DiCenso(bateria). Com esta formação será gravado no ano de 1998 o álbum “Beyond Planet Earth”(“Além do Planeta Terra”... eles estão cada vez mais introspectivos, não concorda ?!?) um disco que causou certo desconforto em fãs mais radicais pelos experimentalismos da banda. As influências musicais começam á aflorar neste trabalho, onde o surpreendente ska “Alone on my Birthday”(“Sozinho No Meu Aniversário”) pontua novos elementos musicais na banda. “Revealed in Refletion” (“Revelado em Reflexão”) é uma canção temática da banda em suas aspirações hindus. Mas o que irritou os fãs mais radicais foi a mixagem de “Man or Beast?”(Homem ou animal ?), que contou com uma versão mais techno
O século XXI traz o trabalho “When 20 Summers Past”, ou “Quando Vinte Verões Se Passarem”, trazendo o SHELTER mais conciso em suas músicas, realmente mais introspectivos que o disco anterior. “In the van Again” (Na van novamente) é uma música que relembra os tempos de furgão velho da banda que mencionei acima e o videoclipe ficou interessante. Na verdade, lembra mesmo os velhos tempos de se organizar shows(e que continuam hoje do mesmo jeito...). Destaco a música “Song Of Brahma” (Filho de Brahma”), onde Ray Cappo relata um incidente acontecido em um show na cidade de Bufallo nos E.U.A. em que ocorreu atos violência por parte de integrantes de uma gangue local.
Após a saída amigável de Porcell, a banda foi reformulada. A esposa de Cappo, Sri Kesava, assumiu a guitarra ritmica, e a guitarra solo ficou á cargo de Supregrass, um jovem de apenas vinte anos de idade. Sean Sellers foi escalado para a bateria e Dave Dicenso permaneceu no contrabaixo. Assim, a banda ressurge mais melódica e com uma sonoridade mais suave que nos discos anteriores. O disco “The Purpose, The Passion”(O propósito e a paixão”) traz á tona composições como “The Greater Plan”(“O grande Plano”) calcada no desejo que cada ser humano tem em si. Destaco também “Working Miracles”(“Realizando Milagres”), sobre a esperança de se encontrar algo sagrado na vida. Pessoalmente me identifico com ‘The Anatomy Of Us”(“A Nossa Anatomia”) e seu último verso...“Quando você construir uma casa com fundação de pedra , Ela será forte para a vida toda...”
“The eternal” (“A Eternidade”) é até agora, o ultimo álbum da banda. Ken Olsen é convidado para entrar como guitarrista, sendo que participa também de outro projeto musical de Cappo, BETTER THAN A THOUSAND. Lançado em 2006, é um paralelo entre todos os álbuns do SHELTER, com sua sonoridade hora melódica hora agressiva.
A música alternativa sempre teve a característica de aglutinar elementos que fossem um tanto quanto estranhos e ao mesmo tempo singulares, como no caso do SHELTER. Unir elementos da cultura hindu com o a musica ocidental demonstra que vários caminhos podem ser abertos e seguidos dentro do rock alternativo, quando se propõe á fazer musica honesta, pesada e diferente.
Hare Krisna!