quinta-feira, 29 de setembro de 2011

EM HOMENAGEM À REDSON LOPES POZZI - 1962 - 2011




Na madrugada de terça para quarta feira, Edson Lopes Pozzi, mais conhecido como Redson, vocalista, guitarrista, letrista, agitador cultural, pacifista e integrante absoluto da banda CÓLERA, faleceu de insuficiência cardio-respiratória. Esta noticia me emocionou ao ponto de chegar as lágrimas, várias vezes ao dia, ao lembrar da importância que as músicas de Redson e de sua banda tiveram em minha vida. Sofri um luto, como se tivesse perdido um amigo, como se alguém muito próximo de mim tivesse falecido. Mas acho que seja isso mesmo, pois a música, a arte, a intencionalidade de causar sensações e vivências através das ondas sonoras de acordes que transitam entre tremer os decibéis e ao mesmo tempo levar uma mensagem de paz e de luta aos nossos ouvidos e corações, nos faça ser próximos mesmo. Não há o que explicar na dor de perder alguem que admiramos, e isso foi o que senti ao saber da noticia passada via internet pelo meu velho camarada de tempos da União Libertária do sul de Minas Gerais, Alex Batista, que tenho certesa, sentiu a mesma dor, a mesma frustração, o mesmo vazio que a morte nos deixa ao levar um de nós.
As músicas de Redson eram rápidas, diretas, com letras evocando um utopismo necessário àqueles que buscam um “outro mundo possível”. Não havia ingenuidade em seus “brados”, muito pelo contrário... era latente a forma como suas composições mesclavam o horror da violência imposta ás pessoas e como era vital procurar formas de resolver estas situações, ou de transforma-las, por mais que fosse dificil ou considerado impossível.





A trajetória de Redson e da banda CÓLERA na música alternativa brasileira perpassou trinta e dois anos de engajamento cultural e, por que não, revolucionário. A banda, surgida em 1979, ainda na ditadura civil-militar que assolou as liberdades individuais e solapou o Brasil na violencia de seus porões e suas torturas, era uma resposta ao estado estagnado em que a sociedade da época vivia, pois nos porões onde Redson e seu irmão Pierre mais os amigos Kino e Helinho tocavam suas primeiras composições, já havia o germe daquilo que se chamaria punk rock e hardcore no Brasil. Não considero exagero relacionar a existência da banda CÓLERA com o início do punk neste país. Muito pelo contrário, pois é evidente a posição de luta e de organização enquanto coletivo que esta banda proporcionou no movimento. Um exemplo é o disco "Sub", que segundo Redson relatou no documentario “Guidable - a Verdadeira História dos Ratos de Porão”, o disco era pra ser um compacto do cólera mas que em ultima hora tornou-se um disco-split com as bandas PSYKÓSE, RATOS DE PORÃO, FOGO CRUZADO e o próprio CÓLERA, provando o coleguismo das bandas e a necessidade de se criar uma cena punk no Brasil.
O ativismo social, ecologista e pacifista de Redson e do CÓLERA(agora com Val Pinheiro no contrabaixo e Pierre sempre na bateria) mateve a chama do punk acesa pelos anos 80, lançando discos fundamentais para o estilo como “Tente Mudar O Amanhã”, “ Pela paz em Todo Mundo”, “Verde não Devaste”, além do registro ao vivo “European Tour”, gravado em diversos países da europa, sendo o primeiro disco brasileiro de uma banda independente lançado fora do país. Há ainda o clássico disco-split “Ao vivo no Lira Paulistana”, gravado ao lado dos RATOS DE PORÃO, e relançado há poucos meses em vinil.
Nos anos 90, discos como “Mundo Mecânico, Mundo Eletrônico” e “Caos Mental Geral” foram simbolos da resistência de um moviemnto que não se cala, mesmos através dos mais variados modismos em que o rock atravessou.Val deixa a banda(ele voltaria anos depois) e Fábio assume o posto de contrabaixista, deixando como marca registrada, seus pulos no palco e sua performance cheia de energia.
E no início do século XXI, o disco “20 anos ao Vivo” passou a trajetória do grupo com suas canções-hino. O último album de estúdio, “Deixe a Terra em Paz”, como o título emblemático já denota, traz o CÓLERA mais amadurecido e mais caústico em suas composições, com a mesma preocupação e temáticas que estão na verve punk/hardcore da banda: protesto social, ecologia, denuncias das atricidades e atos de corrupção cometidas pelos políticos, a busca por uma sociedade mais fraterna.Todos os discos foram lançados pela gravadora de propriedade de Redson, a Ataque Frontal Records.


 
Me parece ao que falar da importância de Redson e de sua banda para o cenário hardcore/punk brasileiro, sempre fica faltando algo mais, uma informação que não foi colocada, ou um fato pitoresco a ser comentado. Mas, ao falar da grandiosidade deste músico, sempre haverão outros a contar suas histórias. Como nas mais belas e tradicionais epopéias, sempre haverá alguém, que contará as aventuras e histórias dos heróis, sejam estes do passado ou de nosso presente momento.
Os romanos usavam a expressão “Ars Longa, Vita Brevis” para simbolizar o perecimento da vida e a eternidade da arte... Traduzindo, “A arte é eterna,e a vida é breve”. Com toda certesa, a arte produzida por Redson ficará eternizada nas mentes e corações daqueles que, como eu, cresceram ouvindo suas canções. E esta arte será compartilhada com as novas gerações.
Adeus Redson... obrigado por compartilhar suas canções comigo e com todos os outros que, de alguma forma, no passado ou no presente, ouviram em quartos fechados que o mundo poderia ser maior do que é, e que as utopias são realidades benditas e necessárias.
Descanse em paz, e que Deus te acolha e suas mãos, onde quer que voce esteja agora.


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